Atos dos Opostos

A lenda dos 47 Ronin

47 ronin, samurai, lenda, arte marcialA lenda dos 47 Ronin começa em 1701, um tempo de paz durante o Shogunato de Tokugawa.

O Shogun Tsunayoshi vivia e reinava em Edo, enquanto o Imperador, que tinha muito pouco poder politico, vivia em Kyoto. Para mostrar respeito para com o Imperador, Tsunayoshi enviava presentes para Kyoto por altura das celebrações do Ano Novo, e em retorno o Imperador mandava os seus presentes de Kyoto para Edo.

Numa destas trocas de presentes Tsunayoshi decidiu enviar dois dos seus novos daimyo para receber os mensageiros imperiais. Naganori Asano-Takuminokami, Senhor do Castelo de Ako na provincia de Harima e Munehare Date, Senhor de Sendai. Pelo fato destes daimyos serem muito inexperientes em receber tão altos visitantes, o Shogun decidiu designar um alto oficial chamado Yoshinaka Kira-Kozukenosuke para os apoiar. Kira, que era um homem arrogante e de mau fundo, ficou bastante irritado com Lorde Asano por este não o presentear com caros artigos em sinal de apreciação e respeito por sua ajuda. Desta forma, Kira em vez de ajudar Lorde Asano prejudicava-o sempre que podia e rebaixava-o publicamente sempre que tinha oportunidade.

Depois de meses nesta situação de abuso a tolerância de Asano chegou ao fim. A 14 de Março incapaz de suportar mais os insultos de Kira, Lorde Asano desenbainhou o seu katana (em si uma ofensa capital quando efetuada dentro do castelo de Edo) e feriu Kira de leve. Por esta ofensa, o Shogun Tsunayoshi ordenou a Lorde Asano que cometesse imediatamente seppuku. Kira, por outro lado, não recebeu qualquer punição. Pelo contrario foi-lhe permitido continuar com os seus deveres oficiais. Antes de morrer Lorde Asano escreveu:

Kaze sasou Hanayorimonao Waremomata Harunonagoriwo Ikanitokasen
As flores que caem não querem partir, mais frustrado do que as flores, o que devo
fazer?

O fato do Shogun não ter punido Kira e ter ordenado a execução de seppuku a Lorde Asano irritou por demais os seguidores e amigos de Asano. De acordo com as leis reinantes quando um samurai cometia seppuku, o seu castelo era confiscado pelo Shogun, a sua familia era deserdada, e os seus 321 samurai eram ordenados a separar-se e a dispersar, tornando-se assim Ronin. Os samurai de Asano não estavam muito conscientes de como atuar perante esta situação. Alguns pensavam que se deviam recusar a entregar o castelo ao Shogun, outros achavam que deviam planejar uma ação de vingança e matar Kira, outros achavam que deviam respeitar a lei e render-se pacificamente.

Oishi Kuranosuke, chefe conselheiro de Lorde Asano, depois de ouvir todas as opiniões transmitidas pelos samurai decidiu traçar um plano. Ele iria pedir ao Shogun o restabelecimento da "Casa de Asano" encabeçada pelo irmão mais novo de Lorde Asano, Daigaku. Se esta petição falhasse os samurai de Lorde Asano recusar-se-iam entregar o castelo e defende-lo-iam até à morte.

Nos dias que se seguiram, enquanto os agentes do Shogun se encaminhavam para Ako todos os samurai que se oponham à petição foram saindo do castelo, deixando apenas 60 samurai fieis a Lorde Asano. Mesmo antes que qualquer dos emissários do Shogun chegassem ao castelo, Daigaku Asano enviou uma mensagem a Oishi pedindo-lhe que obedecesse às ordens do Shogun e entregasse o castelo. Oishi e os restantes 59 samurai aceitaram o pedido de Daiguku, mas antes de entregarem o castelo decidiram traçar um plano de modo a restaurar a honra de seu mestre Lorde Asano matando Kira, cujo caráter pouco tinha a haver com os samurai e que tanta desonra trouxe à família de Lorde Asano. Apenas a sua morte reporia de novo a honra a Lorde Asano e a sua familia.

Deste modo separaram-se por forma a conceber e levar o seu plano em frente. Naturalmente que Kira suspeitava que os samurai de Asano tentassem vingar-se dele. Para afastar qualquer tipo de suspeita Oishi retirou-se para Yamashima, subúrbio de Kyoto, onde foi ganhando a reputação de jogador e bêbado, o que fez diminuir a guarda por parte do Shogun, bem como os espiões de Kira.

O Shogun ainda com receio de que a questão da morte de Lorde Asano ainda não tivesse resolvida ordenou a prisão de Daigaku Asano e sentenciou o seu confinamento e de sua família a uma pequena província, acabando assim, com alguma esperança que pudesse haver quanto ao restabelecimento da "Casa de Asano".

Durante cerca de dois anos eles esperaram pacientemente, disfarçados de comerciantes, de vendedores de rua e até de bêbados, procurando obter informações sobre Kira e estando atentos aos seus movimentos por forma a encontrar uma oportunidade para tomar de assalto a sua mansão. Até que finalmente Kira relaxou e diminuiu a desconfiança e a guarda a Oishi e seus companheiros.

Numa reunião secreta Oishi e os outros 59 Ronin decidiram que o tempo deles era chegado e que eles deveriam devolver a honra a seu mestre. Oishi decidiu levar consigo apenas 46 dos 59 Ronin. Ele decidiu enviar os outros 13 para junto das suas famílias. Um por um Oishi e os seu homens infiltraram-se em Edo, e numa noite nevosa de Inverno a 14 de Dezembro de 1702, os 47 Ronin atacaram a mansão de Kira enquanto ele dava uma festa do chá.

Os 47 Ronin divididos em dois grupos atacaram a mansão pela entrada principal e pelas traseiras. Nessa batalha os 47 Ronin lutaram contra 61 guardas armados. Ao fim de hora e meia de batalha, os Ronin de Asano tinham morto ou capturado todos os guardas de Kira sem nenhuma perda.

Depois de uma busca pela mansão, Kira foi encontrado escondido na casa de fora. O Ronin trouxe Kira para o atrio principal e frente aos outros 46 deu-lhe a mesma oportunidade que foi dada a Lorde Asano: morrer honradamente cometendo seppuku. Kira não queria cometer seppuku pelo que o Ronin o decapitou.

Depois, para simbolizar a conclusão da sua missão, os 47 Ronin voltaram onde tinha sido sepultado Lorde Asano no templo Sengaku-Ji e lá colocaram a cabeça de Kira, declarando assim a honra de Lorde Asano redimida. Preparados para morrer, Oishi enviou um mensageiro ao magistrado de Edo, informando o que tinha sido feito e dizendo que eles iriam ficar à espera no templo Sengaku-Ji, a aguardar ordens do Shogun e ainda escreveu:

Aratanoshi Omoi-ha-sururu Mi-ha-sutsuru Ukiyo-no-tsuki-ni Kakaru-kumonashi
Estou feliz. Realizei o meu desejo e agora é a hora de morrer. Não existem nuvens na
lua da minha vida.

O Shogun Tsunayoshi , em vez de ficar profundamente irado com o acontecimento, ficou muito impressionado com a enorme lealdade demonstrada pelos 47 Ronins. Este fato tornou a decisão de Tsunayoshi ainda mais dificil. Deveria ele apenas separar os 47 Ronins como reconhecimento pelo a sua enorme demonstração de lealdade para com o Bushido ou deveria ele puni-los de acordo com a lei?

Depois de 47 dias de reflexão, Tsunayoshi ordenou que Oishi e 45 dos Ronins se matassem, não como meros criminosos mas como honrados guerreiros. O mais novo dos Ronins que foi enviado a Ako com a noticia da morte de Kira foi poupado a esta sentença. A 4 de Fevereiro de 1703 os 46 Ronins foram divididos em quatro grupos e entregues a 4 diferentes daimyo, que foram ordenados de supervisionar e testemunhar as suas mortes.

Oishi e os outros 45 Ronins cometeram seppuku simultaneamente, dignificando-se no seu valente sacrifício. Depois das suas mortes, os 46 Ronins foram enterrados lado a lado com seu mestre no templo Sengaku-Ji.

Hoje em dia, a memoria dos 47 Ronin é celebrada numa peça chamada Chusingura que leva as audiências as lágrimas. Adicionalmente, cada ano milhares de Japoneses visitam o local onde estão enterrados os corpos do 46 Ronins no Templo Sengaku-Ji para prestar homenagem à honra e lealdade dos 47 Ronin e a sua dedicação ao código do Bushido.

A história verídica dos 47 Ronins da província de Harima é provavelmente a história mais conhecida do valor dos ideais e valor do Bushido.

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